segunda-feira, 2 de agosto de 2010

D.


Há dias em que me dá para pensar nestas coisas. Dias em que vagueio pelas milhentas pastas de fotos que tenho no meu bebecas - leia-se computador - enquanto a minha música ecoa pelo quarto. Dias em que, sentada na minha cama, olho em frente e na minha tela estão as fotografias que mandei imprimir. Só fotografias. A minha vida espalmada naquela tela, só sorrisos, nada de lágrima. Fotografias antigas, algumas com dois anos! Fotografias actuais, as minhas pessoas gravadas ali, o tempo parado ali, a felicidade estampada nos nossos rostos. Até que me levantei e calmamente caminhei até à nossa fotografia, aquela em que estás a dar-me um beijo no rosto e eu a olhar para cima? Estás a ver qual é? Eu sei que estás. Eu sei. Olhei bem para ela e arranquei-a da tela. Fiz o mesmo com todas as fotos em que só eu e tu aparecemos, arranquei-as da tela e guardei no álbum que tenho no armário. Memórias que merecem ser guardadas, o pretérito-perfeito encaixilhado. É perfeito, mas é pretérito, não vale de nada tentar conjugá-lo no presente.
Não consegui deixar de evitar que uma lágrima teimosa caísse enquanto guardava as fotografias e via a minha tela ficar com espaços vazios, de tal maneira que consigo ver o branco da tela. E eu que já não via aquele espaço branco há três anos. Três anos. Anos que passámos felizes. Mais do que o que bastou para deitarmos tudo a perder. Sim, deitarmos. Não vou ser hipócrita e dizer que foste só tu, tu é que deixaste que a nossa amizade caísse no fundo, eu também tenho culpa. Tenho. Admito vergonhosamente, deixei de ir atrás de ti depois de cinco tentativas. Cinco. Tu conheces-me. Tu sabes como sou orgulhosa. Tu conheces o meu orgulho. Conheces agora melhor do que nunca, não é? É ele que me impede de ir ter contigo, feitiozinho este que eu tenho de perdoar e não esquecer. Porém, agora não é nem perdoar, nem esquecer, é nada. Nada.
Voltas sempre ao lugar onde foste feliz, já te apercebeste? Estás tempos e tempos longe, contudo acabas por (tentar) voltar ao lugar onde estou, onde sabes que outrora foste (fomos) feliz como uma criança inconsciente, na esperança que tudo volte para trás ou ao normal. Nem tudo volta atrás, não voltamos a ter tudo o que queremos. A amizade, tal como o amor, é simples. E sabes o que o tempo faz às coisas simples? Devora-as. Junta-lhe distância e as coisas simples são devoradas em segundos.
Talvez noutro dia lhe abra a porta, pensei eu, mas hoje não. Nem amanhã. E muito menos depois de amanhã. Sou mais forte do que aparento e mais fraca do que digo ser, porém, não te abro a porta. Quanto muito, falamos pelo intercomunicador, está bem?
Não fui eu que escolhi, foste tu que decidiste assim. E que posso eu fazer, se não respeitar as decisões de quem já foi a pessoa mais importante da minha vida? E agora fui eu que decidi não te abrir a porta e que podes tu fazer se não respeitar a decisão de quem já foi a pessoa mais importante da tua vida?
Ainda te escrevo.
Vou deixar de fazer um dia.

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